terça-feira, 7 de setembro de 2010

Esta fábula ajuda-nos a refletir sobre a diversidade de alunos e de alunas numa escola que tem na homogeneização o seu caminho e a sua meta.
A "criança tipo" é um rapaz de raça branca que fala a língua hegemônica, saudável, sem deficiências... numa palavra, normal.

É para ele que se dirige o discurso e é ele quem é proposto como modelo para todos (e, curiosamente, para todas).
Sempre se viveu a diferença como uma marca, não como um valor.
Procurou-se a homogeneidade como uma meta e, ao mesmo tempo, como um caminho.
Os mesmos conteúdos para todos, as mesmas explicações para todos, as mesmas avaliações para todos, as mesmas normas para todos.

Curiosamente, argumentava-se com a justiça como fundamento dessa uniformidade.
Sem dar-se conta de que não há maior injustiça do que exigir o mesmo a indivíduos tão diferentes.
Não é justo exigir que percorram o mesmo trajeto, em tempos exatos, um coxo e uma pessoa em perfeito uso das duas pernas.

A injustiça é ainda maior quando as diferenças são cultivadas, procuradas e impostas.
Voltando ao exemplo da corrida: seria razoável exigir um percurso igual a quem pode correr sem obstáculos e a alguém a quem se atou a um pé uma enorme bola de ferro?
A diferença é consubstancial ao ser humano.

Somos únicos, irrepetíveis, em constante evolução.
Se um centímetro quadrado de pele (as impressões digitais) nos torna diferentes de milhares de milhões de indivíduos, o que fará a pele inteira?
E o que se passará com o nosso interior, cheio de emoções, dúvidas, credos, valores, conflitos...?
Disse uma vez que há dois tipos de crianças: os inclassificáveis e os de difícil classificação.
Como é possível que tratemos todos por igual?
Diferenciam-nos as atitudes, as capacidades, as emoções, a cultura, a religião, a raça, o sexo (e o gênero), o dinheiro...
Nem todas as diferenças são do mesmo tipo e nem com todas elas se deve proceder da mesma forma.

Miguel Santos Guerra, ob. citada

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